sábado, 19 de agosto de 2017

Alcatifas

Alcatifas



Em seu apartamento vazio e desgastado onde o morfo imperava nas paredes, folhas ao chão onde se tinham versos ecoando nos vagos e solitários cômodos, o poeta acordou, dormia em seu colchão no chão onde cada noite travava uma guerra com os ácaros que mais pareciam reivindicar o corpo do estafermo. Levantou-se tomou o café frio do dia anterior, dirigiu-se a janela e ao abri-la foi embotado, estupefato, anestesiado pela brisa que entrara mas que fazia um som nunca ocorrido antes, tal poeta que se dava mais conta em seu mundo de sentimentos e tinteiro, não há de se negar, intuitivamente olhava em direção a um poste que estava a uns sete metros da sua lacuna de realidade, repentinamente surge em um passo um pé em uma sandália baixa quase coberto pelo tecido longo colorido, naquele dado momento o miserável se deu conta que talvez fosse um podólatra em seguida surge o outro pé no segundo passo, ele pensara que respiração fosse uma função involuntária segundo à medicina, por quê parou então de respirar?. Dos mais belos equinos que se possa apreciar ela cavalgava ao vento e toda a natureza à assistia até mesmo a natureza degradante do pobre poeta, um passo após o outro a bela cavalgada se afastava e de forma recalcitrante o poeta se inclinava para fora de sua fugaz janela que ficava a dez metros do chão quase fazendo-o despencar, na infeliz tentativa de prolongar o êxtase o qual passara. Caso viesse a cair e morrer diriam que foi suicídio alegando-se o aspecto do excêntrico amigo, mas querido leitor revelar-se-ia para nós um induicídio visto que ele estava num tipo de estado hipnótico. Findou-se a apneia. Lembrou-se o caro poeta que precisava de um lençol que lhe servisse de armadura na luta contra o exército de ácaros das baixas planícies do velho colchão de espuma. Saindo de seu apartamento dirigiu-se a uma loja indiana da qual setenta metros antes de chegar na mesma, sentia-se o cheiro dos incensos queimando, ao passar por perto o aroma sempre o deixava inspirado, mas desta vez ele precisou entrar na loja a fim de resolver aquela velha batalha. Nosso amigo entra na loja indiana que mais parecia um templo e indaga em pensamento, que lugar suntuoso, até não ver quem iria atende-lo, surge a funcionária para atender nosso simpático parceiro, ela sai por detrás de uma bela cortina com estampa de mandalas, primeiro um pé e o mesmo longo tecido colorido já para nosso ilustre a apneia, batimento cardíaco de britadeira, virilhas congeladas, glote e epiglote dessincronizadas já não era mais uma cavalgada e sim em sua frente uma galáxia um buraco negro ou uma supernova, ou o próprio sol pensou ele, tentando lhe desintegrar, vou morrer pensou, claro não conseguia falar, então a bela atendente perguntou o que ele desejava, fico até envergonhado de relatar isso caro leitor, nosso inspirador soldado só conseguia apontar para um lençol e balbuciar algumas palavras; - Cobrir, as corceiras, colchão e repetia as mesmas palavras dando um verdadeiro espetáculo de linguagem não verbal, mimica ou algo parecido, tentando decifrar o que ele tentava explicar nossa inefável estrela lhe sugeriu uma alcatifa por ser mais espessa o que certamente o protegeria de algo que o incomodava em sua hora de dormir, ...há meus Deuses da antiga Arcádia aquela Alcatifa..., o poeta de imediato e incomodado com sua tenaz timidez perguntou quanto custava aquela Alcatifa e antes que nossa Deusa falasse o preço ele já estava a abrir seu livro onde guardava o seu dinheiro para tal destino, nossa rutilante musa falou o preço e no momento que ele retira o dinheiro, algumas cédulas, sem que ele se desse conta pois não teria tal habilidade e intenção, junto com as cédulas também foi uma pequenina folha do tipo lembrete a vendedora também não percebeu e assim tratou de colocar o dinheiro no caixa e entregar a valiosa Alcatifa ao poeta e ele a beira de um colapso a passos largos e rápidos tratou logo de sair da loja, arrancando um sútil, leve e suave como cheiro de acácias secas, um sorriso da intocável, pelo seu jeito de se despedir, a bela jovem ao fim do expediente como de rotina no momento de fechar o caixa percebeu o bilhete sem intenção e o leu, havia duas palavras, ela ao terminar de ler desbravou uma longo sorrio e encostou o bilhete em seu colo.

O poeta já em seu castelo de letras visualizava e revivia aqueles momentos já era noite e deu muitas gargalhadas de si próprio e depois de muitas gargalhadas decidia que pela manhã iria comprar alguns incensos na promissora loja indiana. Naquela noite dormiu como uma gata egípcia de pernas pro ar sobre a Alcatifa que exalava um mágico aroma de incensos, até sonhou que voava sobre a Alcatifa pelo o universo desconhecido. O dia amanheceu e o poeta acordou com um semblante espirituoso e um brilho diferente no seu olhar ligou seu notebook entrou no Youtube selecionou uma lista que nem conhecia de música meditativa da cantora Deva Premal:- quantas músicas maravilhosas- ele se propôs até a preparar um café novo e um sanduíche de vegetais. Arrumou-se e saiu com destino a loja indiana chegando à loja dirigiu-se ao balcão dos incensos e a nossa adorável expressão da beleza feminina perguntou se ele tinha alguma preferência por algum tipo de essência, algum aroma e nosso amigo de forma destemida afirmou que sim afirmou que adorava o aroma de mel indiano:-sabe lá de onde ele tirava essa ideia-, como se não fosse pouco o prazer de voar em seu sonho a nossa amiga fala ao poeta que tem esse incenso e que é o preferido dela com o mesmo lindo sorriso agora largo como as montanhas do himalaia cobertas de gelo, o poeta fala então com grande vigor que vai levar sete caixas e antes que retirasse o seu dinheiro do velho livro de poesia ela lhe devolveu o bilhete com um olhar polido cheio de paixão e afirmou: - guardei com carinho e agora te devolvo amável poeta gostaria que não fossem as últimas palavras que eu viesse a ler de você, pensei na Alcatifa e na posição em que ficaria deitada vendo a fumaça do incenso subir pelo ar enquanto você declamava alguns versos e o aroma do mel adoçando nosso ambiente. O poeta agora se tornou rei pois se tratava agora do maravilhoso mundo da poesia e respondeu para a sua admirável musa inspiradora: - aprecio tua beleza e tua paz seria um sacrilégio aos versos não te proporcionar este momento. E assim leram transcendentais poemas de amor juntos embebidos de mel em forma de ar numa Alcatifa que voava pelo universo;- caro leitor neste momento te revelo as duas palavras que abriram os céus para os dois “ Sensibilidade e Amar”.



Renato Victor Chaves


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